domingo, 3 de novembro de 2019

Biografia de Dom Miguel de Lima Valverde Arcebispo que inspirou o nome da escola Dom Miguel

Miguel de Lima Valverde nasceu em Santo Amaro (BA) no dia 29 de setembro de 1872, filho de Antônio Severiano de Lima Valverde e de Hermelinda Carolina de Lima Valverde.

Em 5 de fevereiro de 1885 entrou para o Seminário da Bahia, onde concluiu os preparatórios e estudou filosofia e teologia. Em 1890, recebeu sua primeira tonsura e, em 1892, as ordens menores. Subdiácono em 1893, passou a diácono no ano seguinte, e, em 1895, foi ordenado padre (presbítero).

Em abril de 1896, foi nomeado capelão do asilo Conde Pereira Marinho, da congregação das irmãs dorotéias. No ano seguinte, viria a ser designado confessor da mesma ordem. Mais tarde promovido a cônego da Sé (Catedral de Salvador), tornou-se vigário-geral da Arquidiocese Primaz em fevereiro de 1908.

Escolhido pela Santa Sé para a diocese de Santa Maria da Boca do Monte, hoje Santa Maria (RS), dom Miguel foi sagrado bispo em outubro de 1911 e empossado no dia 7 de janeiro de 1912. Durante seu episcopado gaúcho, escreveu algumas cartas pastorais, numa das quais lançou o movimento que resultou na criação do Seminário Diocesano (Seminário Menor de Santa Maria), por ele fundado em 1914 e considerado sua principal obra na diocese, em virtude da escassez do clero. Também instituiu 14 paróquias e três curatos.

Em 14 de fevereiro de 1922, pela bula Hodie Nos, o papa Pio XI nomeou-o para a arquidiocese de Olinda e Recife, a qual, desde 1921, vinha sendo governada pelo deão Pereira Alves, como vigário capitular, em virtude da transferência de dom Sebastião Leme para a cidade do Rio de Janeiro. Dom Miguel tomou posse do novo cargo no dia 23 de julho de 1922.

 

Ação pastoral

Logo de início, empenhou-se na criação de uma imprensa católica, acentuando sua importância em pastoral de março de 1923 e instituindo o “dia pró-Tribuna”, a fim de transformar o hebdomadário A Tribuna em um jornal diário. A necessidade de estimular uma imprensa religiosa que, segundo suas palavras, “defendesse e propagasse os princípios católicos”, foi consubstanciada através da criação da Associação da Boa Imprensa, sociedade civil entregue a leigos e instalada ainda em 1923, e da fundação, em 1925, do Boletim Mensal, órgão oficial da arquidiocese, em substituição a O Mês do Clero.

Quanto ao descanso dominical, um de seus temas preferidos, em maio de 1924, quando não havia qualquer legislação sobre o assunto, dom Miguel assinou um acordo com representantes da classe comercial para o fechamento do comércio nos domingos e dias santos. Mais tarde (1931), os empregados desse setor fizeram ao arcebispo uma grande manifestação pelo benefício que lhes prestara.

Em 1926, inaugurou a escola e as oficinas do padre Machado, no bairro do Brum, em Recife, e, em junho de 1927, criou em cada paróquia conselhos de fábrica, constituídos por leigos encarregados da administração dos bens e do patrimônio.

A ação pastoral de dom Miguel deu especial ênfase à disseminação da doutrina religiosa, apoiando particularmente a criação de núcleos de jovens e estimulando a organização de Ação Católica na arquidiocese. Tendo manifestado, em 1928, seu desejo de dispor de um padre “versado em sociologia” para colocar à frente da obra em que se empenhava, veio a implantar depois os círculos operários, entregues aos cuidados do padre Costa Carvalho. Em 1929, promoveu assembléias gerais da Confederação das Associações Católicas e da Obra das Vocações Sacerdotais, além de ter realizado a sessão preparatória da União dos Operários Católicos.

A Juventude Católica Feminina de Pernambuco, criada em dezembro de 1932, foi a primeira entidade brasileira nos moldes da Ação Católica Italiana que, mais tarde, Pio XI universalizou. Em 1933, dom Miguel reorganizou a Confederação das Associações Católicas e, em julho de 1934, mandou fundar associações missionárias. Em circular de novembro de 1935, referiu-se à criação de associações de Ação Católica nas paróquias. Estas associações foram fundadas e iniciaram seus cursos em março do ano seguinte. Em abril de 1937, instalou as juntas dos diversos ramos da Ação Católica, a qual já funcionava amplamente na arquidiocese de Olinda e Recife quando foi oficializada em todo o país (1936). De janeiro a março de 1938, o padre Leopoldo Brentano, fundador dos Círculos Operários no Rio Grande do Sul, permaneceu na capital pernambucana. Mais tarde (1947), dom Miguel viria a criar a União Missionária do Clero.

Em relação à catequese, desde 1924 dom Miguel adotou sucessivas providências. Nesse ano, uniformizou o texto do catecismo paroquial e o do ministrado pelos colégios católicos. Mais tarde, deu permissão para que o ensino religioso se desse também nas escolas públicas. Em julho de 1934, iniciaram-se as aulas de religião na Escola Normal. Em 1936, dom Miguel baixou uma circular com instruções sobre o ensino religioso nas escolas.

Também nesse período, iniciou-se o Curso Anchieta para catequistas, a cargo da Cruzada das Educadoras Católicas e, em outubro de 1937, realizou-se a Semana Pedagógica da Cruzada das Educadoras Católicas, com a finalidade de preparar o II Congresso Católico de Educação. Em novembro do mesmo ano, dom Miguel criou o Departamento Catequético Arquidiocesano. Em outubro de 1943, realizou-se em Recife o Tríduo Catequético. Em maio de 1946, dom Miguel regulamentou o ensino religioso nas escolas e, finalmente, em 1950, lançou na arquidiocese uma “maratona catequética”.

Ao longo de mais de 20 anos, dom Miguel realizou grande número de obras de construção para a arquidiocese. Em 1929, promoveu a reforma e restauração, concluída em 1934, da igreja Madre de Deus. Em 1930, inaugurou o Lar Sacerdotal e, em setembro de 1934, o prédio da Pequena Cruzada, na estrada de Água Fria. Em 1936, sagrou a nova matriz da paróquia de Belém e, em maio de 1938, inaugurou a matriz do Arraial. Em 1941, reinaugurou a igreja das Fronteiras. Em novembro de 1944, nomeou uma comissão para a restauração do convento de Santo Amaro, em Serinhaém, e, em 1950, instituiu outra comissão para a construção, em Camaragibe, de um mosteiro para as carmelitas que, desde 1925, residiam no Recife.

Durante seu arcebispado, dom Miguel efetuou várias viagens, ora em visitas pastorais às paróquias a ele subordinadas, ora a Roma, em visitas ad limina, comuns ao seu cargo. Também participou de congressos e reuniões eclesiásticas, não só em Recife, mas ainda em outras cidades do Brasil e do exterior. Assim, em agosto de 1934, viajou para o Congresso Eucarístico de Buenos Aires. Em 1939, foi ao Rio de Janeiro para tratar do Congresso Eucarístico Nacional, que, presidido por ele, veio a realizar-se no Recife, de 1º a 8 de setembro do mesmo ano. Anos mais tarde, em 1945, presidiu o Congresso Eucarístico de Maceió.

 

Pronunciamentos políticos

Além das atividades especificamente religiosas desenvolvidas por dom Miguel, algumas considerações de teor político foram incluídas em várias de suas exortações quaresmais. O arcebispo, inclusive, emprestou seu apoio a organizações diretamente ligadas à política nacional.

Durante a Revolução de 1930 ordenou, em 19 de outubro, “orações pela paz no Brasil”. No dia 25 do mesmo mês, publicou um comunicado sobre a paz, tendo também associado sua Igreja aos “júbilos” pelo término da Revolução de 1930.

Na exortação quaresmal de 18 de fevereiro de 1931, pediu aos fiéis que obedecessem às leis e que, na família, na Igreja ou no Estado, respeitassem a autoridade. Esta, segundo disse, é sagrada, já que foi atribuída por Deus aos homens. “Suprima-se da sociedade o poder que a rege e logo teremos a desordem, a anarquia, o caos”, afirmou então dom Miguel. Para o arcebispo, os homens só não teriam de obedecer à autoridade quando lhes fosse exigida alguma coisa que, abertamente, “repugnasse ao direito natural ou divino, porque é igualmente vedado praticar tudo o que violar a lei natural ou a vontade de Deus”.

Por ocasião da Revolução de 1932, dom Miguel ordenou, em 23 de julho desse ano, orações “pela paz no Brasil”. Em novembro de 1933, pediu que se rezasse “pela Assembléia Constituinte Nacional”. Através da Liga Eleitoral Católica pernambucana, procurou influir na eleição de representantes à Constituinte.

Em exortação quaresmal de 1936, referiu-se ao “levante comunista de novembro” do ano anterior, o qual, em sua opinião, “por um triz não subverteu a ordem em todo o país, fazendo-nos retrogradar de quatro séculos de civilização cristã”. Dom Miguel afirmou, ainda, que o socialismo “é essencialmente anticristão” e que o comunismo é “a revolta dos instintos contra a razão, do homem contra Deus”. Na mesma exortação, o arcebispo disse ter incentivado a organização da Ação Católica na arquidiocese para sanar a “crise das consciências” e conseguir transformar o meio social “paganizado”.

Na quaresma de 1942, dom Miguel advertiu contra o espiritismo e os “perigos” das seitas protestantes, ao mesmo tempo em que, associando-se às preocupações com a Segunda Guerra Mundial, dispensou os fiéis do jejum e da abstinência. Em junho, antes mesmo da Pastoral Coletiva do Episcopado Nacional, reservou à guerra um capítulo — “Deus e a Pátria” — das resoluções dos bispos de sua província eclesiástica. Além disso, apoiou as atividades da Legião Brasileira de Assistência e da Organização de Defesa Civil. Em outubro, interessou o clero e os fiéis na campanha de fomento agrícola, a que prestou significativo apoio.

Em maio de 1944, dom Miguel reiterou a ordem de orações pela paz e, no dia 25 de janeiro de 1946, aprovou a reorganização da Liga Eleitoral Católica, que reiniciou suas atividades depois do Estado Novo. Na exortação quaresmal desse ano, voltou a invectivar contra o comunismo: “Numa campanha astuta e insidiosa propala-se..., entre o nosso povo simples e sem cultura suficiente para discernir a serpente que se oculta por baixo da folhagem verdosa,... que o comunismo nada tem contra a religião e tão-somente procura melhorar, em futuro próximo, as precárias condições de vida do nosso povo pobre e sofredor. As promessas são sedutoras... Urge... [que] se desfaça a ilusão que está fascinando a muita gente.... Com um tal sistema haverá mais lugar para a vida religiosa e cristã?”

Dom Miguel retomou o assunto em suas mensagens anuais de 1947 e 1949, numa das quais afirmou que, se conseguisse dominar o mundo, o comunismo acabaria com a riqueza pessoal: “Todos ficariam pobres. Abastados seriam somente os funcionários do Estado, dono e possuidor de todos os bens. Ora, ser pobre e livre é bem melhor do que ser escravo. A pobreza nunca foi um opróbrio.”

Em 1950, teve sua última reunião com a Ação Católica, numa assembléia de toda a Juventude Operária Católica Arquidiocesana. Em fevereiro de 1951, fez sua derradeira exortação quaresmal.

Faleceu no dia 7 de maio de 1951.

Ao longo de seus 29 anos de episcopado pernambucano, dom Miguel criou 19 paróquias, instalou o Seminário de Pau d’Alho e promoveu a instalação da diocese do Caruaru, que havia sido criada pelo papa Pio XII em agosto de 1948.

Dom Miguel Valverde escreveu quatro cartas pastorais e várias exortações quaresmais. Em 1972, no centenário de seu nascimento, a Sociedade Cultural Paulo VI, de Recife, organizou e editou a obra Dom Miguel de Lima Valverde — in memoriam.

Sônia Dias

 

 

FONTES: CONFERÊNCIA NAC. BISPOS DO BRASIL; GARDEL, L. Armoiries; Jornal do Comércio, Rio (7/5/51); SOC. CULT. PAULO VI. Dom Miguel.


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